São Filipe lhe disse:
– Minha filha, você age mal
falando dos outros; tenho que lhe passar uma penitência. Você deverá comprar
uma galinha no mercado e depois caminhar para fora da cidade. Enquanto for
andando, deverá arrancar as penas e ir espalhando-as. Não pare até ter depenado
completamente a ave. Quando tiver feito isso, volte e me conte.
Ela pensou com seus botões que
era mesmo uma penitência muito singular! Mas não objetou. Comprou a galinha,
saiu caminhando e arrancando as penas, como ele lhe dissera. Depois, voltou e
reportou a São Filipe.
– Minha filha – disse o Santo –,
você completou a primeira parte da penitência. Agora vem o resto.
– Sim, o que é, padre?
– Você deverá voltar pelo mesmo
caminho e catar todas as penas.
– Mas, padre, é impossível! A
esta hora, o vento já as espalhou em todas as direções. Posso até conseguir
algumas, mas não todas!
– É verdade, minha filha. E não é
isso mesmo que acontece com as palavras tolas que você deixa sair? Não é
verdade que você inventa histórias que vão sendo espalhadas por aí, de boca em
boca, até ficarem fora do seu alcance? Será que você conseguiria segui-las e
cancelá-las, se desejasse?
– Não, padre.
– Então, minha filha, quando você
sentir vontade de dizer coisas indelicadas sobre seus vizinhos, feche os
lábios. Não espalhe essas penas, pequenas e maldosas, pelo seu caminho.
Do livro: O Livro das Virtudes II
- O Compasso Moral - William J. Bennet - Ed.Nova Fronteira
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